Les Portraits / Terra de Vida

Ce blog est dérivé du blog "TERRA DE VIDA" et reprend tous les billets (textes et photos) sur le thème des 'Portraits' des Portugais du Luxembourg.

Tuesday, March 21, 2006

Père et fils dans café-brasserie



Le photographe ne connaît pas les noms de ce monsieur et de son fils.
Il sait seulement qu'il s'agit bien d'un père et de son fils. Le monsieur le lui a dit.
Le photographe a pris la photo sans poser plus de questions.
Il s'agit d'un père et de son fils qui se sont assis à la table d'un café-brasserie pendant un moment. C'était un dimanche.
La photographe a seulement pris l'image. Pour le reste, c'est l'imagination qui peut laisser entrevoir un monde de tendresse et de sagesse pratique, des jours de tous les jours, des matins qui se réveillent et des soirs couchants, des chantiers coupants comme la lame de rasoir et des salles de classe scellées de bruits d'enfants.

"Senta-te aqui comigo!"


Le texte qui suit nous a été amicalement confié par Alexandre G. Weytjens - http://www.cadernosgaspar.blogspot.com/

"Senta-te aqui comigo!"

Disseste-me:”Senta-te aqui. Comigo!” Está bem, sento-me contigo no meio da sala. É uma sala grande. Uma mesa no centro. É a hora do pequeno-almoço. Há um serviço de taças coloridas exposto. Cheira a pão fresco e café. Estou com fome. Hoje vou tentar não pôr açúcar! Asseguro-me de que não me esqueci do meu caderno azul e verifico que continua cheio de páginas riscadas de hieróglifos, como sempre. É uma casa bonita, sinto-me bem aqui, ao teu lado. Pelas janelas penetra uma luz intensa que me faz bem à pele, promessa do dia que nasce.Em posição de lótus em cima do sofá. O sofá é meu. É verde. Condiz com os quadros nas paredes de motivos pastorais. Gosto de estar aqui contigo, simplesmente a olhar para ti. Posso fechar os olhos e deixar os meus dedos deslizar nos teus.Aquele canto está completamente desarrumado e deve mesmo estar sujo. Contrasta com o resto. Mas não me interessa. Hoje não quero sujar o coração com pó.Afinal, não passo sem açúcar. Mexo. A espuma fica mais espessa. Deixo escorrer a colher. Tudo acontece em câmara lenta, como o teu sorriso.Há cheiros nesta casa que eu já conheço, apesar de nunca ter estado aqui. O cheiro a café, de gosto forte e carácter bem vincado, que deixa sempre um travo amargo, que chega atrasado, na língua. É por isso que ponho açúcar, percebes? Cocegam-me as narinas as fragrâncias sedutoras a anis e gengibre dos biscoitos que fazes aos sábados de manhã e cujo sabor nunca reconheço à primeira dentada. Sou assim, já não mudo! Hum... e os eflúvios de canela que me lembram a tua pele que cheira a sol. E lá de fora chegam pelas frestas da janela as essências do canteiro de alecrim e de lima-limão do limoeiro que ainda não plantei.Quero explorar o resto da casa, mas sinto-me tão bem aqui, contigo. A apaixonar-me a cada instante pelo sossego dos teus olhos. Sentado aqui, no soalho de madeira, onde tudo é possível.Os quartos do primeiro andar serão amplos? As crianças precisam de espaço para brincar e crescer. Queres crianças, não queres? Quero ouvir os risos deles a correrem pela casa, da mesma maneira que sou feliz quando oiço os teus.
E o sótão? A casa tem sótão? Uma mansarda onde poderei escrever e estender-me nos meus cadernos. E onde aos domingos, vespertinos e áridos, virás fazer amor comigo. Deitar-nos-emos em cima das páginas das minhas utopias. Nos poros do teu corpo, nas rugas do teu rosto, nas baías das tuas costas tranquilas, no ancoradouro dos teus lábios floridos descobrirei novos mapas, caminhos marítimos e rotas de sal e chuva.Deixa-me olhar-te! Seremos felizes, aqui? Pensas que sim?
A cave é grande, podemos encafuar lá todos os nossos velhos caixotes. Temos que resistir à tentação de os abrir. Sabes bem que sou de um incurável e trôpego romantismo piegas. Não me deixes sucumbir aos fantasmas. Quero esquecer o passado e disfrutar desta nossa casa maravilhosa.
O soalho range, eu sei! Não é seguro. Achas que pode ceder? Lá íamos parar à cave com umas doses de equimoses, sinistrados dentro dos velhos caixotes que queríamos esquecer.Sinto que já deixei pedaços de mim por aqui. Este lugar já me pertence, se é que alguma vez pertencemos a algum lugar. Porque isto é tudo, afinal, uma grande viagem.Arregaço a coragem nos teus olhos. Vamos pôr mãos à obra. Vamos abater estas paredes que não fazem falta aqui. Isto fica muito mais arejado assim.Podemos substituir os móveis vetustos e pintar tudo isto de uma cor diferente. Gostas de ocre ou de vermelho da Toscânia? Quero uma cor quente, como os teus ombros.Olha pela janela. A casa tem um belo jardim, já reparaste? Não tenho muito jeito para hortas. Saberemos cultivá-lo? Não pode ser assim tão difícil plantar rosas e amores-perfeitos! E depois é só regá-las de vez em quando, não é?É esta a vida que queres comigo? É o que tenho para oferecer. É tudo o que sei. Quero tão pouco. Parece-me tanto.Hoje, aqui, no centro nevrálgico desta casa que já é nossa, ainda os pilares crescem e as telhas não estão postas, queria pedir-te apenas que te chegasses mais a mim, me abraçasses sem temer ontens nem amanhãs e que encontrasses no teu regaço o tempo e o espaço para me dizeres tudo.

88 printemps


francisco